Cada um encara um caminho diferente de acordo com as suas próprias escolhas, perspectivas e forma de enfrentar os desafios da vida.
Apóstolos e Apostolado
Apóstolos e Apostolado

Apóstolos e Apostolado

A sedução pelo poder sempre foi uma grande pedra de tropeço para o homem e, como era de se esperar, essa arma tem sido usada pelo inimigo de nossas almas desde o princípio. No jardim do Éden, quando Adão podia caminhar e conversar com Deus diariamente, Satanás não usou e nem poderia usar a perseguição como estratégia para levar o homem ao fracasso.

O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. E o Senhor Deus ordenou ao homem: — De toda árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá. Gênesis 2:15-17.

Adão foi colocado no Jardim do Éden com a missão de cultivá-lo e guardá-lo. Ele podia comer de qualquer fruto do jardim, exceto o da árvore do conhecimento do bem e do mal. Nesse momento da história da humanidade, o pecado ainda não havia entrado no mundo, então o homem não possuía a inclinação pecaminosa. Por isso, muitos teólogos entendem que Adão foi o único homem a exercer, de fato, o livre-arbítrio.

Mas a serpente, mais astuta que todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: — É verdade que Deus disse: “Não comam do fruto de nenhuma árvore do jardim”? A mulher respondeu à serpente: — Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: “Vocês não devem comer dele, nem tocar nele, para que não venham a morrer.” Então a serpente disse à mulher: — É certo que vocês não morrerão. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerem, os olhos de vocês se abrirão e, como Deus, vocês serão conhecedores do bem e do mal. Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto e comeu; e deu também ao marido, e ele comeu. Gênesis 3:1-6.

Eva, ao ouvir a falsa informação de que, ao comer do fruto proibido, tanto ela, quanto o marido seriam iguais a Deus, foi tentada e seduzida pela ambição de acessar algo que não lhes havia sido concedido. O restante da história nós já conhecemos: o homem foi expulso da presença de Deus e sua descendência sofre até hoje as consequências do pecado cometido no jardim.

Quem é o maior

Certa vez, enquanto Jesus estava com seus discípulos, surgiu entre eles uma discussão sobre qual seria o maior.

Houve também entre eles uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior. Mas Jesus lhes disse: — Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados de benfeitores. Mas vocês não são assim; pelo contrário, o maior entre vocês seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Lucas 22:24-26

Nos primeiros anos do cristianismo, diversos homens tentaram se posicionar como líderes, mesmo não possuindo nenhuma legitimidade. Simão Mago, mencionado em Atos 8:9-24, Marcião de Sinope, Ário e Pelágio, cada um deles em uma época diferente, são alguns exemplos de falsos líderes. Esses hereges estavam mais interessados em exercer domínio sobre o povo do que em guiá-lo à salvação. Os dias atuais não são diferentes.

A Igreja Católica Romana foi instituída formalmente apenas em 380 d.C., quando o cristianismo foi oficializado como religião do Império Romano. No entanto, foi somente por volta de 440 d.C., com o Papa Leão I, que começaram as articulações para estabelecer a doutrina papal como uma autoridade suprema, colocada como sucessora de Pedro e, assim, garantindo legitimidade. Desde o Concílio de Niceia, em 325 d.C., o bispo de Roma já era reconhecido como uma figura de maior autoridade.

A busca desenfreada pelo poder sempre esteve na raiz de cada conflito na história da humanidade e também do cristianismo. Quanto mais o homem deu voz ao seu egoísmo mais distante ficou de Deus e menos interessado ficou pela a missão e propósito deixado por Jesus.

O desvirtuamento da palavra “apóstolo” e do ministério apostólico teve início com a Igreja de Roma e persiste até os dias atuais em muitas igrejas que se intitulam evangélicas, especialmente em instituições neopentecostais.

O grupo dos doze

Em sua passagem pela Terra, Jesus Cristo teve muitos discípulos; porém, dentre eles, escolheu doze para estar mais próximo.

Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes, que foi quem o traiu. Mateus 10:2-4.

E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor. Lucas 6:13-16.

Após a saída de Judas, os onze remanecentes se reuniram para escolher o substituto do traidor e o nome de Matias, que era um dos homens que também acompanhava Jesus, foi o escolhido. Posteriormente, o próprio Jesus apareceu a um judeu chamado Saulo de Tarso, que até então era perseguidor de cristãos, e também o chamou para a obra apostólica. Daí surge umas das questões mais debatidas na teologia, se o décimo segundo apóstolo seria de fato Matias, que foi escolhido após os discípulos lançarem sorte, ou seria Paulo, que foi escolhido diretamente por Jesus e que teve um protagonismo essencial para a história do cristianismo.

Apocalipse 21:14 aponta para um número de apóstolos fixado em doze:

A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e sobre estes estavam os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Apocalipse 21:14.

E as regras para ser um deles também aparecem como um delimitador:

— Portanto, é necessário que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo em que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até o dia em que foi tirado do nosso meio e levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição. Atos 1:21-22.

O Apóstolo Paulo, em uma de sua cartas, indica que o grupo dos Apóstolos era limitado e específico:

E apareceu a Cefas e, depois, aos doze. Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria ainda vive; porém alguns já dormem. Depois, foi visto por Tiago e, mais tarde, por todos os apóstolos. Por último, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo. 1 Coríntios 15:5-8.

O ministério apostólico

Apóstolo é uma palavra grega e significa “enviado”, “mensageiro” ou “embaixador”. Na Bíblia, todos que foram chamados de Apóstolo foram chamados e enviados para uma missão específica, representando quem os enviou, Jesus Cristo. Nos dias de hoje o trabalho que é feito e mais parecido com o sentido original do apostolado é o papel realizado pelo missionário, ou seja, pessoas que deixam suas vidas seculares para pregar o evangelho.

Além dos doze discípulos de Jesus, a Bíblia menciona de modo geral o ministério apostólico:

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres. Efésios 4:11.

A uns Deus estabeleceu na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, os que têm dons de curar, ou de ajudar, ou de administrar, ou de falar em variedade de línguas. 1 Coríntios 12:28.

No sentido estrito da palavra, o ministério apostólico como o primeiro e mais importante na igreja é plenamente justificado, pois o apóstolo é aquele que é enviado, o embaixador da palavra de Deus. Além disso, vemos na Bíblia outras pessoas que viajavam pregando a palavra também sendo chamadas de apóstolos, como Barnabé e Tiago (irmão do Senhor). Fica claro que, de modo geral, pessoas que exercem o ministério apostólico também podem ser chamados de Apóstolos, embora não sejam sucessores ou que tenham qualquer vínculo com o grupo originalmente escolhido por Jesus.

Porém, ouvindo isto, os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgando as suas roupas, saltaram para o meio da multidão, gritando. Atos 14:14.

E não vi outro dos apóstolos, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. Gálatas 1:19.

Conclusão

Ao estudarmos o Novo Testamento, ficam claras três coisas:

  1. O grupo dos 12 apóstolos é limitado, e não há evidências bíblicas de sua sucessão. Um fato que reforça esse entendimento é que o primeiro apóstolo martirizado, Tiago, irmão de João, não foi substituído, diferentemente de Judas Iscariotes. A Bíblia não relata nenhuma outra substituição ou indicação de sucessão.
  2. Existe o ministério apostólico, sempre listado em primeiro como o mais importante. No entanto, ele nunca é demonstrado relacionado à liderança, poder ou autoridade, mas sim ao papel de mensageiro, enviado e embaixador da palavra de Deus.

Assim como no catolicismo, no meio neopentecostal e carismático, alguns líderes se autodenominam “apóstolos” como sinal de autoridade espiritual e liderança. Porém, de acordo com o que estudamos até aqui, esse não é o sentido original da palavra nem a forma como o termo é usado na Bíblia.