Durante a minha infância, as manhãs de domingo costumavam ser na Catedral de Campina Grande, levado por minha mãe. Apenas dois momentos quebravam o tédio: o primeiro era ver o técnico de som ajustando e testando os equipamentos para a transmissão da missa pelo rádio; o segundo, o momento da Comunhão, que sempre alimentava minha curiosidade a fim de saber o sabor da hóstia.
Com a adolescência, veio o poder de escolha sobre continuar ou não participando daquele evento, e eu, naturalmente, optei por me afastar. Com o passar dos anos, o ceticismo foi crescendo e, já na vida adulta, distante do círculo familiar, cheguei a me declarar ateu. Hoje, reconheço que, na verdade, estava mais próximo de ser um agnóstico do que um completo incrédulo.
Como cristão desde 2002, nunca fui adepto da fé cega, mas em uma fé fundamentada na razão, conforme a própria Bíblia Sagrada recomenda em diversas passagens:
Em Mateus 22:37, Jesus cita o primeiro mandamento:
‘Jesus respondeu: — “Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento.” ‘
1 Pedro 3:15 diz:
‘pelo contrário, santifiquem a Cristo, como Senhor, no seu coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm. ‘
1Tessalonicenses 5:21 diz:
‘Examinem todas as coisas, retenham o que é bom. ‘
Atos 17:11 reforça:
‘Ora, estes de Bereia eram mais nobres do que os de Tessalônica, pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. ‘
Provérbios 18:15 explica que a tendência do sábio é a busca pelo conhecimento e pelo saber:
‘O coração do sábio adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios procura o saber. ‘
Citei alguns exemplos, mas a Bíblia está repleta de recomendações para que os cristãos sejam criteriosos, que usem a razão, a reflexão e o entendimento. Obviamente, todos os extremos são perigosos: a fé cega é tão problemática quanto a idolatria da razão. Explicar como as coisas funcionam ou como vieram a existir não exclui a existência de Deus.
Neste post, decidi abordar a confiabilidade dos evangelhos, pois sei que, assim como eu no passado, há muitas pessoas têm dúvidas sobre como os relatos sobre Jesus Cristo chegaram até nós.
Autenticidade
A maioria dos textos antigos chegou até nós por meio de cópias feitas séculos após sua composição. No entanto, a autenticidade dos textos que temos hoje é confirmada por cópias datadas de períodos próximos às versões originais. Quando comparadas entre si, essas cópias atestam a fidelidade dos textos transmitidos. Por exemplo, existem aproximadamente 250 cópias dos manuscritos das obras de Platão. Caso alguém tentasse falsificar a obra de Platão, isso seria inviável, pois essas 250 cópias atestam e confirmam o conteúdo da obra original. Para a arqueologia, quanto mais próxima a data dessas cópias em relação ao original, mais confiável elas são.
Estima-se que A Epopeia de Gilgamesh, um poema antigo da Mesopotâmia, tenha sido escrita por volta de 1800 a.C. Suas tábuas mais antigas datam de aproximadamente 2100 a.C., e a quantidade de cópias disponíveis reforça sua importância histórica e literária.
A Ilíada de Homero é outro livro antigo que, inicialmente, foi transmitido apenas oralmente de geração para geração. As cópias mais antigas da obra datam de 300 d.C., ou seja, cerca de 1000 anos após sua composição. No entanto, a quantidade de cópias, cerca de 1800 manuscritos, atesta a originalidade do texto.
Agora, vamos comparar o Novo Testamento com essas duas obras, que são consideradas autênticas devido à grande quantidade de cópias datadas próximas à época de sua composição original. O Novo Testamento conta com cerca de 5.800 manuscritos gregos, mais de 10.000 manuscritos latinos e cerca de 9.300 traduções em siríaco, copta, armênio e outros idiomas antigos, totalizando mais de 25.000 cópias de papiros registradas até hoje. Todas essas cópias datam de entre 50 d.C. e 125 d.C. A quantidade de cópias do Novo Testamento e a proximidade dessas cópias com a data dos acontecimentos é incomparável com qualquer outro livro tido como autêntico. Perante os olhos da ciência não há qualquer dúvida sobre a autenticidade dos escritos do Novo Testamento.
Autoria
Se lermos de forma rigorosa os evangelhos, perceberemos que todos eles são anônimos, ou seja, nenhum dos autores se identifica de forma explícita. No entanto, o testemunho da Igreja primitiva é uniforme em afirmar que Mateus, também chamado de Levi, é o autor do primeiro (na ordem bíblica) evangelho; que João Marcos, companheiro de Pedro, é o autor do evangelho que chamamos de Marcos; que Lucas escreveu tanto o evangelho de Lucas quanto o livro de Atos dos Apóstolos; e que João é o autor do quarto evangelho.
Caso tais livros fossem fictícios, seria pouco provável que esses autores fossem os escolhidos, pois quem falsifica busca, em primeiro lugar, o apelo da autoridade, e a probabilidade é que os três primeiros evangelhos teriam a identificação clara de autoria de alguém muito próximo a Jesus. No entanto, o que vemos é justamente o inverso: Marcos e Lucas, que nem estavam entre os doze discípulos, e Mateus, que havia sido odiado no passado por ser cobrador de impostos. Fora dos evangelhos, Matheus é citado apenas uma vez no livro de Atos e nenhuma vez nas cartas de Paulo. Em contraste, todos os evangelhos apócrifos foram escritos tardiamente e atribuídos a nomes conhecidos como Filipe, Pedro, Maria e Tiago, como forma de reivindicar autoridade. Dos quatros evangelhos, apenas o livro de João foi escrito por alguém que, de fato, andava muito próximo a Jesus Cristo.
Sobre o evangelho de João, as próprias descobertas arqueológicas atestam os relatos e a autoria do livro. Por exemplo, João 1:5-15 relata a cura de um paralítico em um tanque chamado Betesda, o qual teria cinco pórticos. Como tal lugar nunca havia sido encontrado, essa passagem foi usada por muito anos para descredibilizar tanto a autenticidade, quanto a autoria do livro, no entanto, em 1964, durante escavações realizadas em Jerusalém, um grande complexo de piscinas divididos em cinco pavilhões foi finalmente descoberto.

Testemunha de Segunda Geração
Um escritor cristão famoso, chamado Papias de Hierápolis, testemunhou por volta de 125 d.C., em sua obra intitulada Exposição dos Oráculos do Senhor, que não conheceu pessoalmente os apóstolos, mas afirmou ter ouvido diretamente daqueles que haviam convivido com eles, como discípulos dos apóstolos. Infelizmente, essa obra não sobreviveu na íntegra até os dias de hoje, mas é citada em obras de outros autores cristãos, como Eusébio de Cesareia e Irineu de Lyon.
Papias afirmou especificamente que Marcos havia registrado de forma cuidadosa e precisa as observações do testemunho ocular de Pedro. Sobre Mateus, ele disse que o apóstolo havia preservado os ensinos de Jesus.
Posteriormente, Irineu, escrevendo por volta do ano 180 d.C., confirmou a autoria tradicional. Em relação a Lucas e João, disse o seguinte: “Lucas, o companheiro de Paulo, registrou em um livro o evangelho pregado pelo seu mestre. Posteriormente, João, o discípulo do Senhor, aquele que se reclinou no seu peito, também produziu seu Evangelho enquanto morava em Éfeso, na Ásia.”
Conclusão
Existem muitas outras provas relacionadas não apenas a confiabilidade dos evangelhos, como também de todo o Novo e do Antigo Testamento. São provas científicas, corroborativas, testemunhais, documentais, entre muitas outras, no entanto, é importante salientar que o objetivo deste post não é incentivar uma vida cristã baseada somente na razão. Como foi dito no início: nem fé cega, nem idolatria da razão.
A experiência espiritual é maior do que qualquer outra experiência que alguém possa ter. Uma resposta a uma oração, um milagre, uma cura, uma visão ou uma profecia cumprida são exemplos de experiências insuperáveis, que nenhum estudo ou pesquisa pode sobrepor. Por outro lado, o bom conhecimento das Escrituras e o fundamento na razão (e não na emoção) nos ajudam a amadurecer, a sermos cristãos responsáveis, comprometidos e firmados na rocha. Sobretudo, o estudo das Escrituras não pode ser colocado em segundo plano, como algo secundário. A fé vem de ouvir a Palavra de Deus.